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Maio 2012

Despedida

Tomei minha derradeira taça de Melancolia. Brindei ao gole final das Desilusões. Fumei o último cigarro de minhas Angustias Me levantei. Caminhei para a noite, abri as asas e voei.

O que é o amor?

É entrelinha É tom intermediário É olhar impronunciável É sorriso fora de hora É motivo É ação E razão de ser. É o que o dicionário descreve, mas não consegue explicar. É o que o médico não prescreve, mas deveria receitar.

Amor de jardim de Amor

Bem-te-vi assim que me olhaste. Sorri. Beijaste uma flor e, como prova de amor, a mim entregaste. Naquele momento brotou um sentimento, que com muito zelo regamos e adubamos, dia-após-dia, ano-após-ano... tanto em ti quanto em mim. Cotidianamente assistimos florescer nosso jardim.

Carol

Carolina acordava todos os dias com aquele resquício do sono que ainda faltou ser dormido. Mas não se queixava. Desligava o despertador e se levantava.

Ainda entre sonhos que teimavam em continuar arrastava-se para o banheiro. Água, banho, café, roupa, café, notícias na TV, maquiagem, escova de dentes, chave, sapato, “eita o desodorante”, elevador, bom dia, constrangimento, espelho, carro, transito....trabalho.

Afogada na rotina, os dias passavam. E a noite era tão curta...Ou lia, ou assistia um filme, ou estudava, ou corria, ou arrumava a casa, ou...ou. “Tenho que dormir, amanhã acordo cedo”. Tantos “ous”, tantas escolhas e tão pouco tempo – pensava.

Foi num dia qualquer, entre uma e outra escolha, checando o e-mail, olhando o vazio pela janela e escutando o noticiário da TV que Carolina parou de calçar o tênis e chorou.

Foi um choro inconsciente, da solidão escondida, do ar sufocante e da velocidade a que se sentia submetida.

Carolina tinha amigos, tinha família e todos gostavam dela. Achavam ela uma garota bem-sucedida, independente, inteligente, bonita. Uma mulher forte, de fibra, por isso mesmo não lhe chamavam Carol. Não tinha apelido, era apenas Carolina.

Chorou e não calçou mais o sapato. Ligou pra família e disse que era frágil. Falou pela primeira vez de tudo o que sentia, que também sofria, que estava cansada e que esse mundo de obrigações e correria mata. Falou para a mãe que queria cafuné, que queria deitar e não ficar de pé, que se sentia só, às vezes perdida, que de tantas “coisas” para fazer sumia.

A mãe lhe escutou e pela primeira vez lhe chamou de Carol. Conversaram como duas amigas e Carol se sentiu muito querida.

Dormiu no chão, na sala, pensando em todos aqueles a quem amava, em todas as coisas de que gostava. Acordou com a claridade do sol e fez o mesmo de sempre, só que com uma diferença...aproveitou cada momento, cada de repente.

Amargo

Mais um dia,

tudo igual,

desigual,

melancolia.

Acordo,

Trabalho,

como,

Autômato.

Dentro do café

Fumegante

Uma lágrima cai,

Adoçante.

Luar

Toda noite, da janela, do quadrado, vejo ela e recebo encabulado uma luz tonta, que a meu quarto arredonda.

Sabor

Mastiguei. Ai como era doce... Engoli. digeri. Mas continuei a sentir o sabor das palavras que ouvi.

De uma vida sem entonação

Vivia sem emoção, em vão, sem amor, era só razão. Vivia de monocromia, de monotonia, sem louvor ou desilusão. Morreu sem contraste, num desastre, sem dor, não foi interjeição.

Coceira

Acordei com uma coceira. Achei que fosse alergia ou até mesmo sujeira. Mas não, era uma lembrança. Dessas que deviam estar esquecidas, que só causam ansias e teimam em não ficar adormecidas.

Erosão

dá peRda dá pedRa dá pé...daR

Limpeza

Preciso limpar a casa. Pintar as paredes, espanar a poeira, arrumar armários e gavetas jogar fora o lixo, lavar o chão. Eliminar todas as marcas des pessoas passadas. Varrer os resquícios de amores perdidos. Apagar o rastro de uma antiga solidão. Vassoura,detergente, pano rodo, coragem, razão. Tenho tudo, só me falta água, para terminar a faxina de meu coração.

Do mistério segundo a coruja

Na falta da escuridão, teve que procurar mistério... em pleno verão. Vôou por baixo do balão quente que pendia do teto e não caía no chão. Correu o mundo... Na claridade cegante do dia, mergulhou fundo. Ouviu do azul um pouco do tudo. Apertou os olhos e enxergou profundo. Das coisas das naturezas no mar, no céu, nas cidades, sentiu tamanha beleza Entre dores viventes, amores passantes choros floridos, risos contidos, viu que cada verso tinha seu reverso. E, na luz dessa confusão, pousou tranquila... numa sombra sobre o chão. -É...tudo fazia sentido... em cada cor há um mistério escondido.


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