Agosto 2012
Mediano ou poema da sobremesa
Quanta felicidade existe num pedaço de bolo de chocolate, doce, que doce, que bate! Ai como queria ser um bicho de extremos! viveria extremamente guloso, amoroso, prazeroso, delicioso... Seria todo superlativo, cresceria grandemente em todos os sentidos... vertical, horizontal, lateral, frontal, ... iria me expandir de tanto sabor, amor, odor ou dor até explodir e ir, alí, acolá, quem sabe ser ou deixar? Mas como sou mediano, vivo todos esses anos, contando nos dedos, cheio de medos, buscando felicidade, com vergonha da idade, preocupado com o peso, sem saber se sou amado ou desprezado e andando sempre calçado.
Aconteceu numa festa
Sentou-se à mesa tirou da bolsa o pequeno espelho e se viu. A maquiagem não estava borrada, o cabelo estava arrumado. estava bonita, perfumada, bem vestida. Andar, olhares, sorrisos, "oi tudo bom?" Abraços, acenos, conversas, fingimentos. Tantas gentes, conversas, egos, moralismos, educação futilidades... amor? sexo ou dinheiro? Era preciso muita bebida pra navegar naquele mar de ilusão. Mas a festa continuava... Música alta, ela alta. Pessoas se movimentavam, dançavam? flertavam? já não distinguia... pessoas felizes, todas atrizes. E ela lá, sem estar... se desfazendo, ao tentar se encaixar. Sentou-se à mesa tirou da bolsa o pequeno espelho e se viu endurecendo, perdendo os movimentos, uma linda boneca de pensamentos de ventos Assustada, se levantou, olhou ao redor, "um mar de brinquedos" tentou fugir, correr, mas tropeçou. Caiu, asfixiava... ninguém notava. Foi assim que aconteceu... Deitada no chão, tirou da bolsa o espelho e o quebrou. com os cacos cortou o plástico da embalagem. Sem cascas então respirou. levantou-se, seguiu viagem para trás jamais olhou.
Doce inveja
Invejo os que andam de mãos dadas, que tocam confidencias ao pé-do-ouvido, que compartilham as mesmas fotos, que se compreendem no sorriso. Por que para mim é tão difícil? Me parece até impossível, que um dia seja amada de um amor correspondido. Queria me livrar dessa solidão, ou conseguir assumí-la com gratidão. Ser feliz sem ou comigo, dá ao meu mundo um pouco de brilho. Mas me sinto tão fosca... Me escondo no cotidiano pra despistar a tristeza, que, dentro de mim, ri de minhas besteiras. "Menina, deixe de tanta amargura, abra um sorriso e leve a vida com doçura"
Próximos capítulos
Tal qual livro a espera de um leitor estou eu a espera de um amor. Aguardo para ser lida. Pelos teus olhos, minha história ganhar mais vida. Sou cheia de páginas escritas, eu sei. Mas sou eu, é meu passado... Espero tua chegada, para os novos capítulos, continuação de minha jornada.
Passatempo
Perdi de virada, tudo indicava o contrário, menos o relógio. É, o fim só termina quando acaba. Comemorei de véspera achei que tudo tinha dado certo, não aguentei a espera. espalhei aos quatro ventos, "consegui" conquistei tudo o que quiz só que parou de ventar e o ponteiro do relógio de funcionar. O destino assim teve mais tempo... Reorganizou as jogadas e fez da minha vida uma piada. Para ele, era só diversão, para mim , ficou a lição: Passa tempo, a vida não é jogo, não se perde ou se ganha, apenas se vive e se passa.
Ninguém mais o viu
como era de costume, entrou na casa e abriu a janela. Não ventava, tampouco ouviu algum ruído. Estranhou, acabava de vir da rua, do trabalho, do trânsito e de repente: onde estão os carros? olhou pela janela aberta, mas não os viu. Ao contrário, tudo estava deserto, não tinha gente, carro, plantas ou prédios. Só o nada. Devo estar sonhando, esfregou os olhos, estou acordado. Atordoado foi até a cozinha tomou um copo d'água, respirou. Voltou à janela, voltou à cozinha, sentou, levantou, assustado, chorou. Chorou por tudo o que não havia mais fora, pelo medo que sentia de abrir a porta, pela certeza daquela realidade, por sua falta de coragem. Limpo então decidiu, pela janela saiu, ninguém mais o viu.
Versinho pro Amor
Amor é cor, são os tons intermediários da paleta do pintor. è uma mistura, uma cor nova que nasceu e tem vida própria. É entre. Não sou eu, nem é você é o que acontece entre a gente.
Vício
Com um horror, avassalador, apressado, abro portas e armários, viro garrafas e sacos, reviro o carro de cabeça pra baixo, paro, acendo um cigarro. esqueço. o que era memo que procurava? algo que me faltava, eu sei. Com um horror avassalador paressado, abro portas e armários...
vista cansada
Há tantas coisas e a vista cansada, perdida no vazio que me cerca sem enxergar nada. Um minuto, olhos de raposa fixos em algo qualquer insignificante. E o barulho me diz que existe um mundo (que rotineiramente inventamos) mas os olhos exaustos já não me deixam criar.
Postado por Marina Feldhues às 06:57 Nenhum comentário:
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Damas da noite
A pior coisa que tem é perder uma idéia. Normalmente elas se aproximam quando estou prestes a dormir. Só que nesse momento, de cansada, me engano fácil, perco pra mim, digo: amanhã quando acordar vou me lembrar. Ilusão. Damas da noite não aparecem de dia. E quando chega a noite já não são mais as mesmas, são outras, mas, amador, cometo os mesmos erros. Não as escrevo, digo "vou lembrar", adormeço e esqueço.
Voa Juquinha
Voa Juquinha, pois você está livre. Voa-voa, à tona, à toa. Usa tuas asas e ganha essa imensidão Decola, larga esse chão meu passarinho, menininho que ficou velhinho sem ser. Vai cantar noutras árvores e ser feliz. Se não fosses aqui, quem sabe alí? Entre palhaços e bruxas, bolinhas e carrinhos, é assim que vou lembrar de ti. Deixa nessa terra teu corpo e as lembranças amargas, sofridas que pela tua carne foram engolidas e que pelo tempo serão apagadas. Estás livre de todas as marcas. Acabaram-se tuas dívidas. Bate essas asas. Quero te ver misturado no céu verde, azul, branco, rosa, laranja, vermelho, amarelo... Serás todas as cores. Sempre teremos um elo.
Verde
às vezes me lambuzo uso e abuso de ser assim, verídico... autêntico sou desagradável? Não que eu queira. É que não estão prontos pra meu humor, levam minhas ironias sempre com rancor. Piscinas infantis são rasas, Cerre seus olhos e abra as asas. Inspiro antipatia neste porto. Vagueio livre, sem ancoras. Não finjo abraços e sorrisos, nem reclamo das lembranças. Agora sobrevôo esse jardim de gente, sou um beija-flor... Mas levo tapas, confundido com mosquito, me defendo, pico. Dou um salto e monto no cavalo e saio por aí, alí, aqui, acolá, lá Quer vir comigo cavalgar? Seremos páticos ou anti ou sim ou a, sei lá. Que importa? Viveremos sem portas, rindo de nós e de tudo. Seremos dois verdes se lambuzando no mundo.
Aceite
Na ponta de seu nariz nasceu uma flor era uma rosa laranja cheia de espinhos, mas que tinha uma leve fragancia ninguem entendeu mas foi assim que sucedeu: acordou, sentiu um leve aroma e ardor mal abriu os olhos e notou: lá estava a flor Por que eu? Por que flor? Por que rosa? Por que laranaja? Apesar de tudo, de todos nada adiantou. teve que se acostumar, para sempre viveu com a flor.
Me faltam sementes
Olho para estas flores e vejo que estão mortos todos os meus amores. Não têm odor, mastigo uma pétala, não têm sabor. secaram pelo sol ou foi a falta d'água que matou? Ninguém mais sente e só eu sei que me faltam sementes pra cultivar novas flores.
bem-te-vi
Bom é ser alegre assim como o bem-te-vi. Acordar cedo, nem se olhar no espelho e sair beijando tudo o que é flor sem preconceito de cor, aroma ou sabor. Mas não sou assim tão amável, o espelho me é implacável. Não tenho flores, tampouco jardim, mal-me-vejo, quiça a ti?
À noite, em casa
À noite, em casa, sou em potência realizações. Mas só o nada acompanha minhas ações quero agir, ler, comer, escutar, falar,beber. usar qualquer sentido. sentir que ainda estou vivo. Mais nada. É o que consigo. Me dominam as negações. Sinto um grande cansaço. Sem forças, me faltam braços Sei que o tédio já está presente. Caminho para a melancolia. É o que dá não ocupar ações. Aparecem logo as frustrações. Me invadem os maus pensamentos (que moravam embaixo do tapete). Olho ao redor, enxergo apenas paredes. Ligo a televisão, luzes, barulho, nada escuto, ou vejo. tédio, tristeza, falta de concentração. Penso em ligar para alguém, quem? só, sem ação, solidão.
Choro reprimido
Queria chorar, mas não consegui. Fui racional demais, eu sei. Não havia motivos, mas tentei. A culpa é da educação que recebi. É crime chorar sem ter motivo? Pode ser caracterizado como puro egoísmo? Chorar é minha saída. É quando, desnuda da armadura, lavo minhas feridas. É o momento em que mais nada importa, somente minha história. O que sou, ou fui, serei ou não. Tudo o que para mim é real ou ilusão. Tentei, mas não consegui. Não me deixei lavar. Presa aos moralismos da mente, desisti de chorar.
Abaju
A luz do abaju amarela meus medos, como um clarão que atravessa os pesadelos. Sei que não voarei pela janela (posso dormir com ela aberta) não perderei meu travesseiro, nem serei sugada pelo espelho. Durmo tranquila, contudo me confundo, acho que é dia e acordo para o mundo. Reconheço o engano, desligo o abaju e continuo sonhando.